Os 85 anos da Academia Acreana de Letras é uma data
magnífica, pela sua história, suas raízes e sua eterna relação com o Acre real,
de seus instantes mágicos, de sua ancestralidade.
Quando alguém, além de nossas fronteiras, afirma que o Acre é
um lugar especial, um pedaço encantado do Brasil, como se o seu povo fosse
feito de diamante, os mais apressados enxergam uma defesa exagerada da
territorialidade ou um acreanismo sem nenhum valor.
Quando a Academia Acreana de Letras completa 85 anos, como
uma pedra de carvão que fala, tem sentimento, torna-se diamante, chora,
resiste, torna-se dia, noite, amante… Então, a gente pode comparar.
Comparar o Acre com outros lugares desenvolvidos, bem
dotados, nutridos. Inacreditável, como aqui as letras influenciaram a vida,
deixaram marcas na história.
Em 17 de novembro de 1937, acreanos de valor fundaram a
Academia Acreana de Letras. Apenas 34 anos separavam aquela data mágica da data
de nossa própria existência como povo.
Apenas 34 anos entre a existência do Acre brasileiro
(Revolução Acreana) e a fundação de sua Academia de Letras, o lugar onde o
palpável cede lugar ao abstrato da imaginação e da ternura das letras.
Ao nosso lado, o poderoso vizinho Amazonas demoraria 163 para
fundar a sua academia de letras. Em 1755 era constituída a Capitania do Rio
Negro e somente em 1918 seria criada a Academia Amazonense de Letras. Esse o
exemplo do norte, da Amazônia.
Minas Gerais, em 1709, já era o centro econômico da colônia,
mas a sua academia de letras seria fundada somente em 1909. Nada menos do que
200 anos depois da existência daquele rico lugar.
Exemplos não faltam. Em 1532 foi criada a Capitania de
Pernambuco, mas a sua academia de letras foi criada somente 369 anos depois, em
1901.
A própria Bahia, onde foi forte e simbólico o desejo de olhar
para a imaginação do homem e a sua rebeldia, somente em 1724 foi criada a
Academia dos Esquecidos e depois a Academia dos Renascidos em 1759, duas das
primeiras tentativas de dotar o Brasil de uma entidade cultural capaz de
congregar os interesses literários.
Ocorre que em 1572 já existiam dois governos no Brasil, o do
Rio de Janeiro e o da Bahia. Assim, mesmo lá, a Academia de Letras só surgiria
152 anos depois.
Nem o Brasil e os seus 500 anos de história escapam à
comparação. A Academia Brasileira de Letras foi fundada em 1897, nada menos do
que 397 anos depois do descobrimento. Apesar de Machado de Assis.
Aliás, dezenas e centenas de anos depois de muitos fatos
importantes. A Academia Brasileira de Letras foi fundada 89 anos depois que a
Família Real chegou ao Brasil.
O príncipe regente D. João fundou o Banco do Brasil, o Jardim
Botânico, a Imprensa Real e a Escola de Medicina, mas não fundou a academia de
letras.
Pedro II proclamou a Independência, mas ainda demorou 75 anos
para ser fundada a Academia de Letras do Brasil. Veio a Proclamação da
República, mas não fundaram a Academia das Letras, que nasceria somente 8 anos
depois.
No Acre tudo foi diferente. A letra nasceu primeiro, junto
com a sua imaginação, a sua liberdade em relação ao poder, a sua autonomia
intelectual e a sua eterna utopia. Fazer do Acre uma terra de homens e mulheres
livres, decentes e felizes.
Por aqui, como meninos no meio das águas, acabávamos de
completar 17 anos que tínhamos governador e apenas 3 anos que havíamos
conquistado o direito de ter representante no congresso nacional, apenas duas
vagas na imensidão do Brasil.
Assim, acredito que a fundação da Academia Acreana de Letras,
apenas 34 anos depois da nossa existência como gente brasileira, merece uma
reflexão sobre a liberdade, a fraternidade e a igualdade que estamos
construindo.
Que liberdade queremos para os nossos filhos? Que igualdade?
Que fraternidade? Responder a essas interrogações é tarefa nobre daqueles que
olham o Acre nos 85 anos de fundação da Academia Acreana de Letras.
Vida longa a todos vocês, queridos confrades e confreiras da
Academia Acreana de Letras! Muito obrigado pela travessia! Vocês nos trouxeram
até aqui, cheios de luz, irreverência, utopia, amor à vida, abraços e poesia.
Encerro, fazendo um chamamento. Vamos utilizar o diamante que
a vida nos deu, a força das letras, da literatura, da poesia e do conhecimento,
para proteger a nossa juventude nos lugares mais frios, nas periferias, nos
ramais, nas aldeias indígenas e nos rios.
Vamos levar letras e sonhos, algoritmos de esperança contra
tudo que mata o corpo e danifica a alma, o desamor e a depressão. Vamos
encontrar um jeito de erguer abraços, de letras, de esperança, de fraternidade
juvenil, de vida contra a morte.
Vida longa às letras e sua força de um vendaval de diplomas,
TCCs, universidades e escolas, teatros, palcos e instrumentos musicais,
esperança e partitura.
17 de Novembro. Tratado de Petrópolis e Fundação da Academia
Acreana de Letras.
* Moisés Diniz é
membro da academia e tem livros publicados, como O Santo de Deus, Bandeira
Gêmea, Exclamações Populares e Palestina.
Os 85 anos da Academia Acreana de Letras é uma data magnífica, pela sua história, suas raízes e sua eterna relação com o Acre real, de seus instantes mágicos, de sua ancestralidade.
Quando alguém, além de nossas fronteiras, afirma que o Acre é um lugar especial, um pedaço encantado do Brasil, como se o seu povo fosse feito de diamante, os mais apressados enxergam uma defesa exagerada da territorialidade ou um acreanismo sem nenhum valor.
Quando a Academia Acreana de Letras completa 85 anos, como uma pedra de carvão que fala, tem sentimento, torna-se diamante, chora, resiste, torna-se dia, noite, amante… Então, a gente pode comparar.
Comparar o Acre com outros lugares desenvolvidos, bem dotados, nutridos. Inacreditável, como aqui as letras influenciaram a vida, deixaram marcas na história.
Em 17 de novembro de 1937, acreanos de valor fundaram a Academia Acreana de Letras. Apenas 34 anos separavam aquela data mágica da data de nossa própria existência como povo.
Apenas 34 anos entre a existência do Acre brasileiro (Revolução Acreana) e a fundação de sua Academia de Letras, o lugar onde o palpável cede lugar ao abstrato da imaginação e da ternura das letras.
Ao nosso lado, o poderoso vizinho Amazonas demoraria 163 para fundar a sua academia de letras. Em 1755 era constituída a Capitania do Rio Negro e somente em 1918 seria criada a Academia Amazonense de Letras. Esse o exemplo do norte, da Amazônia.
Minas Gerais, em 1709, já era o centro econômico da colônia, mas a sua academia de letras seria fundada somente em 1909. Nada menos do que 200 anos depois da existência daquele rico lugar.
Exemplos não faltam. Em 1532 foi criada a Capitania de Pernambuco, mas a sua academia de letras foi criada somente 369 anos depois, em 1901.
A própria Bahia, onde foi forte e simbólico o desejo de olhar para a imaginação do homem e a sua rebeldia, somente em 1724 foi criada a Academia dos Esquecidos e depois a Academia dos Renascidos em 1759, duas das primeiras tentativas de dotar o Brasil de uma entidade cultural capaz de congregar os interesses literários.
Ocorre que em 1572 já existiam dois governos no Brasil, o do Rio de Janeiro e o da Bahia. Assim, mesmo lá, a Academia de Letras só surgiria 152 anos depois.
Nem o Brasil e os seus 500 anos de história escapam à comparação. A Academia Brasileira de Letras foi fundada em 1897, nada menos do que 397 anos depois do descobrimento. Apesar de Machado de Assis.
Aliás, dezenas e centenas de anos depois de muitos fatos importantes. A Academia Brasileira de Letras foi fundada 89 anos depois que a Família Real chegou ao Brasil.
O príncipe regente D. João fundou o Banco do Brasil, o Jardim Botânico, a Imprensa Real e a Escola de Medicina, mas não fundou a academia de letras.
Pedro II proclamou a Independência, mas ainda demorou 75 anos para ser fundada a Academia de Letras do Brasil. Veio a Proclamação da República, mas não fundaram a Academia das Letras, que nasceria somente 8 anos depois.
No Acre tudo foi diferente. A letra nasceu primeiro, junto com a sua imaginação, a sua liberdade em relação ao poder, a sua autonomia intelectual e a sua eterna utopia. Fazer do Acre uma terra de homens e mulheres livres, decentes e felizes.
Por aqui, como meninos no meio das águas, acabávamos de completar 17 anos que tínhamos governador e apenas 3 anos que havíamos conquistado o direito de ter representante no congresso nacional, apenas duas vagas na imensidão do Brasil.
Assim, acredito que a fundação da Academia Acreana de Letras, apenas 34 anos depois da nossa existência como gente brasileira, merece uma reflexão sobre a liberdade, a fraternidade e a igualdade que estamos construindo.
Que liberdade queremos para os nossos filhos? Que igualdade? Que fraternidade? Responder a essas interrogações é tarefa nobre daqueles que olham o Acre nos 85 anos de fundação da Academia Acreana de Letras.
Vida longa a todos vocês, queridos confrades e confreiras da Academia Acreana de Letras! Muito obrigado pela travessia! Vocês nos trouxeram até aqui, cheios de luz, irreverência, utopia, amor à vida, abraços e poesia.
Encerro, fazendo um chamamento. Vamos utilizar o diamante que a vida nos deu, a força das letras, da literatura, da poesia e do conhecimento, para proteger a nossa juventude nos lugares mais frios, nas periferias, nos ramais, nas aldeias indígenas e nos rios.
Vamos levar letras e sonhos, algoritmos de esperança contra tudo que mata o corpo e danifica a alma, o desamor e a depressão. Vamos encontrar um jeito de erguer abraços, de letras, de esperança, de fraternidade juvenil, de vida contra a morte.
Vida longa às letras e sua força de um vendaval de diplomas, TCCs, universidades e escolas, teatros, palcos e instrumentos musicais, esperança e partitura.
17 de Novembro. Tratado de Petrópolis e Fundação da Academia Acreana de Letras.
* Moisés Diniz é membro da academia e tem livros publicados, como O Santo de Deus, Bandeira Gêmea, Exclamações Populares e Palestina.
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