Enterrada
em ato solene, no glorioso 28 de setembro de 1904, com as presenças de grandes
autoridades constituídas: o então Cel. Gregório Thaumaturgo de Azevedo,
fundador da “capital do Juruá”, primeiro intendente do Departamento e
representante oficial do Exmo. Sr. Presidente da República, o Dr. Francisco de
Paula Rodrigues Alves.
O
Cel. Thaumaturgo de Azevedo, firme e radiante, estava acompanhado de outras
autoridades não menos importantes:
Dr.
Fernando Luiz Viera Ferreira - primeiro Juiz de Direito da comarca, Dr. Manoel
Fellipe - primeiro promotor de justiça da comarca, Ten. Theodoro Monteiro -
comandante da Guarda Nacional, escrivão de justiça, funcionários da prefeitura
e os moradores do antigo Seringal “Centro Brasileiro”.
Na
cápsula foram depositados diversos objetos, com destaque:
Uma
medalha comemorativa a fundação do Cruzeiro do Sul;
Uma
flâmula comemorativa a vitória conquistada na batalha do Amonea, contra os
peruanos, em 1904;
Moedas
de Réis;
Um
jornal oficial do governo da União;
Fotografias
de pessoas gradas;
E
outros objetos de significativo valor para o momento.
A
cápsula do tempo só voltaria a ser removida em face das comemorações do
aniversário de 100 anos de Cruzeiro do Sul, em solenidade digna e grandiosa,
sob os olhares e cuidados de grandes autoridades do Estado do Acre e do
município, bem como, com um descendente do próprio Marechal Thaumaturgo,
possibilitando um momento único, ímpar e de grande esplendor para a nossa amada
cidade.
Passados
vinte anos dos eventos magnos, a história é revirada pelo avesso e somos
brindados com um triste e lamentável episódio: a cápsula foi arrancada de seu
lugar no repouso subterrâneo, sem pompas e sem cerimônias. Ela foi literalmente
tratada como um objeto qualquer, com agentes públicos nomeados para a indigna
missão de “descaracterizar” qualquer aura do tesouro que representa, dando
ordens a alguns homens, trabalhadores “braçais”, a arrancar o tal tesouro, como
se estivessem trazendo para a luz do sol, um tronco de árvore qualquer, uma
caixa de lixo enterrada e esquecida, um objeto insignificante, uma bobagem sem
memória.
Peço
desculpas a Vossa Excelência, Marechal Gregório Thaumaturgo de Azevedo, como
cidadão cruzeirense, por tão grotesca e provinciana cena!
Peço
mil desculpas, meu Marechal!
O
ato solene de desenterro da capsula, passados quase 120 anos desde o glorioso
28 de setembro de 1904, não foi digno da grandeza da cidade mais importante do
Alto e Baixo Juruá.
Não
registramos a banda de música, não executou-se o Hino Nacional ou nosso hino
municipal. Não contamos nenhuma autoridade no local e não ouviu-se salvas de
tiros e muitos menos discursos solenes. E o que aconteceu? Apenas melancólicas
ordens desajustadas e um desconhecimento total da história e do que representa
a retirada de tão notável e precioso objeto.
Nesse
dia triste para o patrimônio histórico e cultural, a imagem do Cruzeiro não
resplandeceu. Ficou coberta por nuvens, envergonhada ao olhar para baixo e ver
uma anti-solenidade, patética e desajustada, digo infeliz, para o século XXI.
Sem pompas! Sem circunstância. Digo, sem memória.
Comentários