Por Chico Araújo (*)

A advocacia, essa eterna luta entre princípios e interesses, agora se depara com um novo espetáculo jurídico digno de um roteiro de tragédia grega. Enquanto juízes transformam a legalidade em um conceito elástico, advogados observam, entre perplexos e indignados, decisões que deveriam ser pautadas pela Constituição, mas parecem seguir um roteiro alternativo—talvez inspirado em alguma obra de ficção distópica.

E então, Rui Barbosa ressurge como um profeta do caos institucional. Sua célebre máxima sobre a pior das ditaduras nunca esteve tão atual, pois, quando o próprio guardião da justiça distorce o direito, a quem recorrer? O silêncio de outrora da Ordem dos Advogados do Brasil, que já foi uma muralha contra abusos, soa como uma confissão tardia. E agora, quando a jurisprudência se dobra à conveniência, não há mais porta a fechar, pois o furto institucional já ocorreu e os ecos de um ativismo jurídico reverberam pelos corredores do poder.

O que resta, afinal? A indignação solitária de quem ainda acredita na solidez das leis e no devido processo legal? Talvez. Mas também resta a resistência, ainda que silenciosa, daqueles que sabem que, na advocacia, a coerência vale mais que a conveniência.

E o espetáculo jurídico atinge um novo ápice quando, em plena sessão do STF, advogados veem seus celulares recolhidos—como se, de repente, a transparência processual fosse uma ameaça a ser contida. O gesto não apenas lança suspeitas sobre o cerceamento da defesa, mas também expõe um cenário ainda mais inquietante: desde quando garantir o direito de ampla defesa virou um risco institucional? E pior, qual o fundamento para foro?

Se Rui Barbosa já advertia sobre os perigos de um Judiciário sem freios, agora vemos, ao vivo e em cores, a materialização do alerta: uma Corte que se estende além de seus limites naturais, redefine competências ao sabor das circunstâncias e transforma garantias fundamentais em variáveis ajustáveis.

Enquanto a indignação se espalha entre os que ainda defendem o Estado de Direito, resta a constatação amarga: fechar os olhos para esses excessos é endossar o desmonte institucional.

 (*) Advogado, jornalista e teólogo,  autor do livro "Quando Convivi com os Ratos" (Uiclap, 2024). Compre aqui:

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